O meio ambiente e o debate sobre sustentabilidade nunca estiveram tão presentes no dia a dia da sociedade: as mudanças climáticas, com impactos em todo o planeta, acenderam um alerta em autoridades e órgãos internacionais sobre a urgência e a importância da discussão sobre esses temas.
Secas prolongadas, tempestades de areia, inundações, temperaturas extremas e outros eventos climáticos são noticiados quase diariamente, e, para o entendimento completo desses assuntos, é relevante não só a compreensão dos fatos em si, mas também das dinâmicas terrestres que desencadeiam esses eventos, que podem ser interpretados com base na análise de dados e gráficos, bem como por meio da reflexão sobre os processos históricos e sociais que afetam o clima. Também é imprescindível que todos reflitam sobre como essas notícias são veiculadas, seus discursos e significados.
Ou seja, o assunto mudanças climáticas, sustentabilidade e meio ambiente implica o conhecimento de diversas competências e habilidades presentes na Educação Básica, e a escola, cada vez mais, vê o debate desse relevante tema para a sociedade como algo necessário. Porém, surgem duas importantes indagações: Como abordá-lo nas diversas áreas do conhecimento? Como se pode utilizar da temática ambiental no trabalho interdisciplinar?
Meio ambiente e sustentabilidade na BNCC
Entre as habilidades da BNCC para o Ensino Médio, é de se notar que o tema socioambiental e assuntos correlatos possuem presença constante na Educação Básica. Na BNCC, as competências gerais 7 e 10 citam a consciência ambiental e a sustentabilidade. Também estão na competência específica 3 de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, ou em habilidades de outras áreas, como EM13LGG304, EM13LP27, EM13CNT102, EM13CNT206 e EM13CNT309. Além disso, o meio ambiente é um dos Temas Contemporâneos Transversais, que têm como objetivo “explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada”, de acordo com a própria Base.
O trabalho interdisciplinar
O professor Rodrigo Mendes, coordenador de Ciências da Natureza e Matemática do Ensino Médio em uma escola particular na capital paulista, fala sobre como o assunto ambiental pode ser abordado de forma interdisciplinar. De acordo com ele, o desmatamento da Amazônia pode ser trabalhado, por exemplo, do ponto de vista das Ciências da Natureza, a partir da questão do ciclo da água, ou ainda na reserva de carbono que é enviada à atmosfera e que, com o aumento médio da temperatura, pode impactar a biodiversidade.
O assunto pode gerar também correlações com as Ciências Humanas, tanto por meio da história da exploração do território nacional, quanto ao avaliar como os reflexos deste desmatamento que impacta a região Sudeste dependem também de massa de ar, conhecimentos próprios da Geofísica e da Geografia. Os acordos internacionais também, segundo o professor, trazem uma visão geopolítica da questão ambiental, conhecimento que está além da Biologia. Além disso, ele aponta possibilidades de interação com a área de Linguagens: “há uma dimensão da linguagem também que me interessa, quando eu pego os discursos sobre aquecimento global, sobre conservação ambiental, e que essa área me ajuda a interpretar, decodificar e até produzir discursos novos, filiados a uma dessas visões de mundo relevantes”, comenta.
No entanto, Mendes ressalta que é necessário observar o contexto escolar para possibilitar efetivamente a interdisciplinaridade: “Temos uma estrutura de funcionamento escolar que é organizada na aula. É legal fazer uma aula interdisciplinar, mas então eu preciso de dois professores ao mesmo tempo. E aí eu posso atingir duas turmas ao mesmo tempo? Vai ter a mesma qualidade do trabalho se eu tivesse recursos ilimitados? Eu posso montar uma aula com dez especialistas e vinte alunos e seria incrível. Mas não é a realidade, né?”.
Para ele, tão importante quanto a prática interdisciplinar, é o diálogo constante entre os professores: “Se eu sei o que o meu ‘vizinho’ faz, eu consigo estabelecer pontes [entre os conteúdos], pois se eu não faço, o aluno vai tentar fazer, e aí ele pode conseguir ou não, ou ainda pode fazer de forma equivocada. Eu brinco que, há muito tempo atrás, o aluno não sabia que o carbono que eu falava na Biologia era o mesmo carbono da Química. Para ele, era um carbono da biologia, que era diferente do carbono da química, então explicitar essas coisas é muito importante”, conclui.
O papel da escola na comunidade
Rodrigo Mendes também ressalta a importância da escola como espaço de referência e de “aprendizagem contínua”: “Eu tenho um compromisso de formar os adolescentes que eu dou aula, mas a escola também pode virar um lugar de referência pra sociedade, como fonte de informação. Quando o estudante leva esses assuntos da classe para casa, quando a gente propõe uma investigação que os alunos têm que conversar com os parentes, [essas discussões] vão desembocando em outros lugares”, ressalta o professor.
Além desse debate para fora da escola, há também as questões da comunidade que podem ser abordadas no ambiente escolar: “É lógico que quando a escola tem problemas locais, como, por exemplo, se há um córrego atrás da escola, isso tem que virar debate. A escola é mais um agente dessa discussão sobre o córrego, porque ela afeta e é afetada. Aí vai depender muito do caso específico da escola, a gente não consegue achatar todas as escolas discutindo a localidade, se bem que todas vão ter suas questões de espaço para pensar”, conclui.
Essa participação ativa da escola na comunidade, que pode ser impulsionada por meio do trabalho por projetos no Ensino Médio, pode estimular o engajamento do estudante em sua trajetória, criando uma consciência cidadã e uma postura protagonista em seu processo educacional.
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