Que a pandemia da Covid-19 desencadeou uma defasagem na aprendizagem dos estudantes, em todos os níveis de escolarização, já não é uma novidade. Porém as práticas de retomada dessas aprendizagens ainda patinam, e os índices de defasagem e de abandono dos estudantes agravam-se a cada ano.

Dados do Censo escolar de 2022 apontam que no primeiro ano da pandemia, 2020, 2,3% dos estudantes do Ensino Médio deixaram a escola antes de completar o ano letivo, e em 2021, esse índice subiu para 5%, ou seja, mais do que o dobro de evasão. Em algumas regiões do país, o índice é ainda maior: no Norte, por exemplo, o censo aponta um aumento de 10% na evasão em 2021, em relação aos dados de 2020.

Afora o abandono desses estudantes, há aqueles que permanecem, porém com um índice de atraso significativo em suas aprendizagens. Ainda não há dados oficiais mapeados sobre essa situação, porém um levantamento feito pela Alicerce Educação evidencia que em Língua Portuguesa há uma defasagem de, aproximadamente, dois anos no Ensino Fundamental e de até quatro anos no Ensino Médio. 

Diante desse cenário, imensos desafios se impõem na sala de aula. Para além das horas de planejamento, preparações de aulas e atividades, correções, entre as diversas demandas escolares, os professores precisam lidar com essa urgência de recuperação das aprendizagens, buscando minimizar os impactos que o déficit pode gerar na formação dos estudantes e, consequentemente, em sua atuação social e no mercado de trabalho, agravando ainda mais as desigualdades no país. 

A busca pela supressão das defasagens exige estratégias igualmente trabalhosas aos docentes. É preciso, primeiro, propor atividades diagnósticas para identificar esses atrasos em cada uma das habilidades da área do conhecimento. Em seguida, articular ações didáticas que possam atrair os estudantes para que não se sintam às margens ou até expulsos do ambiente escolar enquanto recuperam esses conhecimentos. Nesse trajeto, é importante avaliar continuamente essas aprendizagens, de diversas formas, pois os resultados de uma prova somativa, sozinhos, não evidenciam a apreensão do conhecimento de forma significativa. 

Nesse contexto, o livro didático pode ser um grande aliado para colaborar com a organização de tantas demandas e garantir uma recuperação adequada das aprendizagens dos estudantes. Isso porque um livro didático de qualidade possui os conteúdos elementares para a aprendizagem e um projeto de progressão clara de habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes, e, por isso, as atividades propostas nele preveem níveis de dificuldade diversos, mobilizando gradativamente o conhecimento dos estudantes. 

Um livro organizado de forma temática e que apresenta os conteúdos do conhecimento contextualizados, garantindo também um diálogo com as crianças, adolescentes e jovens em cada uma de suas especificidades e culturas, torna-se também atrativo ao estudante, que se vê representado nas propostas, identificando-se com elas. 

Com o apoio do livro didático, portanto, o professor pode planejar essas aulas por meio de estratégias diversificadas e envolventes para os estudantes. No caso específico de Língua Portuguesa, é possível aplicar atividades do livro para avaliação diagnóstica, visto que elas já estão mapeadas por habilidades, para, em seguida, selecionar, também do livro, outras atividades para o desenvolvimento dessa mesma habilidade, caso ela não tenha sido alcançada pelos estudantes.

O professor pode, ainda, lançar mão de textos de diferentes complexidades já inseridos em anos específicos, para levantar os conhecimentos prévios dos estudantes e, posteriormente, escolher atividades adequadas para as defasagens diagnosticadas em cada uma de suas turmas, utilizando-se de volumes de anos anteriores.

Promover a retomada das aprendizagens em defasagem é um enorme desafio, não há dúvidas. Porém é uma ação indispensável para garantir um direito de crianças e adolescentes previsto na Constituição, sobretudo se quiser minimizar as inúmeras desigualdades expressas no país. Essa não deve ser uma tarefa solitária; pelo contrário, é preciso esforço e comprometimento de toda a comunidade escolar para garantir estrutura, material, disponibilidade e vontade; e do poder público para garantir recursos que permitam aos estudantes obter o que lhes é de direito: a permanência na escola, com um ensino de qualidade, visando à sua formação integral e adequada para uma atuação cidadã e em condições de um futuro com dignidade.

Confira mais conteúdos formativos cadastrando-se na Sala do Professor!


Claudia Bergamini é bacharela e licenciada em Letras — Português e Linguística pela USP. Mestra em Letras — Filologia e Língua Portuguesa também pela USP. Atualmente, é professora de Língua Portuguesa na Educação Básica da rede particular de São Paulo.