Entre os educadores, a interdisciplinaridade é um dos temas mais recorrentes, com intensas discussões que buscam compreender seu significado e, sobretudo, tecer caminhos para colocá-la na prática na sala de aula. Trata-se de um enorme esforço para romper com uma estrutura de conhecimento escolar fragmentada, com disciplinas isoladas.

A divisão em disciplinas

Essa estrutura do conhecimento fragmentado é uma antiga herança: trata-se de uma fórmula semelhante à que foi feita pelos iluministas na publicação da Enciclopédia, obra organizada entre 1751 e 1780 por Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot, entre outros, que pretendia , naquela época, reúne todo o conhecimento humano de maneira organizado em diversas áreas, como Matemática, História, Ciência etc.

Em outras palavras, tratava-se apenas de um jeito de organizar o imenso conteúdo nessa “estante” do conhecimento humano, utilizando pequenas e inúmeras “gavetas”. Entretanto, esse jeito de organizar a Enciclopédia em partes acabou perdurando ao longo de muito tempo e influenciando as várias formas de provisão dos estudos, a começar pela estrutura de universidades.

Hoje, inclusive, seu uso é até mesmo justificado com argumentos práticos: divididos em diversas partes, o saber fica mais fácil de ser compreendido pelos alunos, que podem se debruçar com mais atenção sobre as partes que mais lhe interessam (ampliando o interesse para outras áreas afins, consequentemente) ou sobre as quais têm mais dificuldade (exigindo maior dedicação, portanto). Essa suposta facilidade, entretanto, implica vários riscos.

O conhecimento pode chegar ao aluno, por exemplo, de forma parcelada e compartimentada, demonstrando aparentemente pouca ou nenhuma relação entre os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento, ou seja, as características que marcam a natureza, a sociedade e o planeta deixam de ser compreendidos em sua integralidade e dinâmicas reais.

Interdisciplinaridade e contextualização

Naturalmente, cada área do conhecimento tem sua especificidade. Por isso, defender a interdisciplinaridade não significa desejar que se dilua todo o saber em uma enorme “bacia” que elimine os diferentes ângulos que compõem cada característica deste mundo. Ao contrário, significa promover a contextualização dos saberes, relacionando-os ao todo do que fazem parte.

Dessa maneira, os diferentes aspectos e acontecimentos do mundo não são vivenciados ou observados separadamente, em diversas partes, aos solavancos. A interdisciplinaridade é apenas uma estratégia para que os alunos sejam colocados em contato com um conhecimento vivo, que faz sentido no cotidiano e pode ser reconhecido na realidade do aluno.

Para a equipe de professores, esse é um desafio significativo: os diferentes projetos escolares devem ter o objetivo de proporcionar ao aluno a chance de consideração o que é específico de cada área do conhecimento e, ao mesmo tempo, experiências com saberes integrados e contextualizados.

Na rotina escolar isso se traduz em encontros, reuniões, partilhas, cooperações, diálogos, enfim, vários exercícios para elaborar um projeto pedagógico comum para todos os profissionais envolvidos nas dinâmicas de ensino e aprendizagem.

Em resumo, não se trata de um esforço individual, mas sim de uma ação coletiva, capaz inclusive de romper com a lógica existente na formação do professor, submetido (ele também) a essa estrutura compartimentada dos saberes durante sua formação. 

Para que isso ocorra de forma satisfatória, é essencial que ocorra um planejamento estruturado entre os professores, como apontado no texto de nosso blog sobre o Novo Ensino Médio.

Interdisciplinaridade no Ensino Fundamental

Dentre todos os segmentos escolares, talvez os anos iniciais do Ensino Fundamental sejam os mais propícios para a introdução de práticas interdisciplinares. Primeiro porque grande parte das dinâmicas de sala de aula cabe a um único profissional (que conta eventualmente com um ou dois auxiliares): o professor de sala de aula, a priori, detém o pleno domínio dos saberes que compõem cada disciplina escolar. Não à toa que esse professor é conhecido muitas vezes como professor polivalente ou pluralista.

Os anos iniciais do Ensino Fundamental são, ainda, pautados por um grande esforço comum: alfabetizar e iniciar o letramento dos alunos, tornando-os capacitados, sobretudo, de ler, escrever e efetuar as operações matemáticas básicas. Esses objetivos primordiais acabam resultando quase que naturalmente em práticas interdisciplinares: conteúdos de Ciências, por exemplo, são usados ​​para o domínio da escrita e da leitura, enquanto os de Geografia servem para desenvolver conteúdos de Matemática, e assim por diante.

Os conteúdos sobre música, por exemplo, podem ser planejados para trabalhar com elementos bastante próximos dos estudantes. Entretanto, em sua integralidade, a música é composta de muitos outros aspectos que permitem o desenvolvimento do ensino de diversas áreas do conhecimento, como Língua Portuguesa, Arte e Geografia.

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 1 Sobre o assunto, veja: DARNTON, Robert. A questão do livro . São Paulo: Companhia das Letras, 2009.