Pra Cima e Pra Baixo
Sobre a obra
Pra cima e pra baixo é um convite para você descobrir e redescobrir muitas maneiras de perceber o que está a sua volta.
Aventure-se nas páginas desse livro!
Veja como tudo pode ser visto de diferentes formas, às vezes até com contradições divertidas!
Conheça a autora de Pra cima e pra baixo!
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A literatura e a fabulação
A humanidade expressa, desde tempos remotos, diferentes formas de narrar fatos cotidianos, reais ou imaginados. A criação fabular configura-se, assim, como uma antiga ferramenta, que mantém ao longo do tempo a vida ativa e garante significado, físico e mental, ao indivíduo e às sociedades.
Outra característica humana de longa data para a elaboração e compreensão da vida são as rodas para contação de histórias, utilizadas desde populações ancestrais para transmissão de conhecimentos, valores e atitudes essenciais a uma determinada comunidade. São as fábulas, os contos e os sonhos contados por anciãs e anciãos, entre tantas outras narrativas, que preenchem os espaços de sabedorias para a sobrevivência e a permanência de variados grupos humanos.
Para o estudioso brasileiro Antonio Candido (2011b), a literatura é peça fundamental para o desenvolvimento humano, pois nos oferece vivências e experiências de personagens diversos, nos transporta para situações narradas nas quais podemos supor viver ou nos reconhecer, possibilitando experimentos, o exercício da alteridade e da empatia. Nessa perspectiva, para o autor, a literatura se configura como direito humano.
Ainda segundo Antônio Candido, com a literatura expandimos repertórios linguísticos e comunicativos, aumentando a ligação com o mundo e com as pessoas no desenvolvimento cultural e científico. Com ela usamos ainda a imaginação, outra característica essencial à humanidade. Sem imaginação, não há vida humana plena. É preciso sonhar, planejar ações concretas e desejar movimentações. Com a imaginação damos formato ao que fazer em um dia qualquer ou criamos elaboradas peças artísticas.
Gênero e temas
Essa obra de Carla Irusta é uma narrativa em primeira pessoa. Ou seja, há uma voz que nos apresenta fatos ligados à natureza (o Sol, pássaros, peixes, montanha, chuva…) e ações humanas, acompanhada de ilustrações ora de figuras humanas, ora de figuras não humanas.
Com essa voz, temos um dos elementos essenciais da narrativa: a personagem principal, nesse caso, uma criança. Com as ilustrações, temos outras personagens complementando a interação no enredo (outras crianças e animais).
A história inicia-se no quarto e termina também nele (na cama), contudo o espaço, elemento essencial para as narrativas, dilui-se em muitos lugares ao longo das páginas. O elemento narrativo tempo, por sua vez, limita-se a um dia (o Sol nasce no começo e, no fim, dá lugar à Lua).
Considerando essas características elementares e o modo como elas se apresentam na construção da narrativa, Pra cima e pra baixo pode ser classificado como crônica, uma crônica infantil. A crônica é um texto híbrido de curta extensão, com linguagem leve, que aborda temas cotidianos, geralmente de um único dia. A unidade textual da obra de Carla Irusta nos leva a vivenciar a experiência de um dia, na visão de uma criança, cheio de acontecimentos e brincadeiras reconhecíveis.
O tema central da obra se relaciona ao cotidiano, aos mais diversos acontecimentos observados no correr do dia de diversas comunidades, sejam elas escolares ou familiares, no campo ou na cidade. Fatos que muitas vezes se encontram relacionados ao mundo natural, ao meio ambiente.
Um cotidiano marcado pelo ritmo (que se configura na narrativa quase como uma suave brincadeira) do subir e descer, atos contrários e condicionados, por exemplo, pelos caminhos, pela gravidade, pela condição física, a criar movimentação distinta e diversa, que, frequentemente naturalizados, quase passam despercebidos em nossas rotinas.
Pra cima e pra baixo, porém, não escapa à complexidade das obras infantis, o que poderá ser confirmado na mediação da leitura. Nela, a apresentação de uma narrativa dos acontecimentos do cotidiano poderá levar a muitas possibilidades, ao se dar às crianças a oportunidade de criar pequenas crônicas com base em suas vivências pessoais, reais ou fictícias.
Com a imaginação e o exercício de narrar/contar histórias, certamente você, professora, professor, poderá perceber diversos significados e referências temáticas na obra, aproveitando as aberturas do texto literário. Sobretudo nas obras literárias infantis, essas aberturas constituem um dos motivos para as crianças pedirem a leitura do mesmo texto mais de uma vez, pois, por meio da repetição, elas solidificam elaborações, confirmam ou refutam hipóteses e criam possibilidades. Cada leitura, com isso, é um novo caminho de aventuras, para baixo ou para cima, com trechos revisitados e reelaborados em muitas frequências.
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