De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 33 milhões de pessoas no Brasil têm mais de 60 anos. A tendência é que esse número continue crescendo, com previsão de que as pessoas idosas sejam um terço da população brasileira até 2060. Mesmo assim, essas pessoas sofrem preconceito e são, muitas vezes, submetidas a situações degradantes por conta de sua idade.

Esse tipo de tratamento é mais conhecido como etarismo, mas também pode ser chamado de idadismo ou ageísmo. Os três termos são sinônimos — sendo o último um anglicismo que vem da palavra age, que significa idade.

A gerontóloga e fundadora da Longevida, consultoria na área do envelhecimento, Sandra Regina Gomes, explica que o etarismo é um processo de criar estereótipos que desvaloriza uma pessoa e a coloca em um papel inferior. Segundo ela, esse tipo de preconceito pode acontecer de diversas formas, como em pequenas atitudes cotidianas, mas também de maneira estrutural, enraizado nos hábitos e costumes da sociedade, ou mesmo no chamado autoidadismo, quando alguém se desqualifica ou se vê incapaz por causa de sua idade.

No que se refere à forma estrutural, Sandra destaca a importância da linguagem na perpetuação do etarismo, apontando que há inúmeras expressões enraizadas no jeito de falar que reforçam estereótipos negativos do envelhecimento. Sua consultoria, em parceria com organizações dos setores público e privado de todas as regiões do Brasil, criou o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, com o objetivo de desconstruir essas expressões.

As consequências para aqueles que sofrem o preconceito podem ser graves e acarretar perda da autoestima, aumento do isolamento, depressão, agravamento de quadros demenciais e de incapacidade física e até mesmo suicídio. As consequências do etarismo podem ser intensificadas quando a pessoa também recebe outros tipos de preconceito, como o de gênero, classe, raça, sexual ou ser pessoa com deficiência.

A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta, ainda, que o preconceito motivado pela idade gera prejuízo financeiro. Em um estudo publicado em 2021, a ONU revelou que apenas nos Estados Unidos são gastos por volta de US$ 63 bilhões anuais por causa de estereótipos negativos envolvendo a população desta faixa etária.

“A maioria da população idosa brasileira é ativa e atuante. Grande parte deles contribui socialmente, politicamente, financeiramente para a manutenção dos seus descendentes e para o desenvolvimento do país. Então é fundamental que a gente respeite cada vez mais as pessoas com 60 anos ou mais”, destaca Sandra Regina Gomes.

Segundo dados do IBGE, publicados em novembro de 2022, a expectativa de vida no Brasil corresponde a 77 anos – e aumenta cada vez mais; em outras palavras, é urgente a adoção de políticas públicas voltadas para essa população, bem como a conscientização sobre o etarismo.

Como combater

Na opinião da gerontóloga Sandra Regina Gomes, é preciso, inicialmente, conscientizar a população sobre o problema. “É importante que tanto quem age com preconceito, quanto quem recebe o preconceito seja capaz de percebê-lo”. Ele ainda diz: “Quando você tem um pensamento idadista, logo depois vem uma fala idadista e uma atitude idadista”.

Nesse sentido, em 2021, iniciou-se a Década do Envelhecimento Saudável, promovida pela Organização Panamericana da Saúde (Opas). A estratégia adotada, com apoio do governo brasileiro, busca reunir esforços para “construir uma sociedade para todas as idades”. Um dos focos do programa é justamente mudar a forma de pensar, sentir e agir em relação à idade e ao envelhecimento.

Segundo Sandra, a desconstrução do preconceito deve começar pelo estímulo à convivência entre diferentes gerações. Diversos estudos mostram que esse contato acaba provocando a redução do preconceito, levando as pessoas a olharem a velhice de maneira mais digna e positiva e a tecer relações mais respeitosas.

O etarismo nas escolas


O combate ao etarismo também passa pelas escolas. “É muito importante fazer com que toda a comunidade escolar seja sensibilizada. Ter pessoas idosas circulando nas escolas, fazendo parte de grupos de trabalho, grupos de discussões, para não ter essa separação”, diz Sandra.

O Estatuto da Pessoa Idosa, que em outubro de 2023 completa 20 anos, prevê em seu artigo 22 que o tema do envelhecimento deve ser implementado nos currículos escolares. O objetivo, aponta a lei, é eliminar o preconceito por meio da produção de conhecimento sobre o assunto. 

Sandra aponta que é essencial a capacitação de professores sobre o tema, fazendo com que seja abordado de forma adequada com os estudantes e, assim, chegue com propriedade às famílias. Mas como o professor pode abordar o tema em sala de aula?

Uma das sugestões, entre tantas, é abordar o envelhecimento como uma etapa da vida, assim como as demais, que deve ser respeitada tanto quanto a infância ou a juventude. Outro bom ponto de partida é começar identificando e questionando as expressões preconceituosas.

Para os professores que querem se aprofundar no assunto ou buscar mais referências de como abordar o etarismo em sala de aula, o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo, o Estatuto da Pessoa Idosa e o plano da Década do Envelhecimento Saudável estão todos disponíveis online. 

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