Confira a entrevista exclusiva de Juliana Calheiros e Karen Zlochevsky, criadoras do estúdio Lorota e ilustradoras de Vai, DJ! – O intrigante caso dos discos perdidos . Entre as questões abordadas, estão os desafios de trabalhar as ilustrações acompanhando o texto de João Rocha Rodrigues e a obra de Elifas Andreato, além de compartilhar as escolhas por trás do estilo de ilustração apresentado na obra.
Juliana Calheiros (Juca) nasceu em Olinda (PE), em 1981. Possui formação em Artes Plásticas pela UFPE e recebeu, em 1999, menção honrosa no Prêmio Pernambuco de Artes Plásticas – Novos Talentos. Participou de diversas conversas em Pernambuco até mudar-se para São Paulo, em 2004.
Karen Zlochevsky nasceu em Israel, em 1980. Formou-se Bacharel em Desenho Industrial e Programação Visual na UFPE, em 2003, trabalhou como designer em diversas agências de Pernambuco e São Paulo.
Ambos são responsáveis por criar o Estúdio Lorota, com o propósito de dar forma a uma linguagem contemporânea e de domínio do público leitor juvenil. Confira a entrevista completa abaixo!
Palavras Projetos Editoriais: Qual foi o principal desafio na produção das ilustrações de “Vai, DJ!”?
Karen Zlochevsky e Juliana Calheiros: Logo no início do processo, assim que recebemos o convite, bateu a expectativa de dividir o espaço do livro com as obras de Elifas Andreato. O trabalho dele faz parte do nosso imaginário, então um certo frio na barriga era presente. No entanto, já nas primeiras conversas com João Rocha Rodrigues e com o pessoal da Palavras, as ideias foram aparecendo e, rapidamente, nos sentimos à vontade nessa construção criativa.
Palavras: Como foi o processo de definição do estilo de ilustração que estaria presente no livro? Você chegou a testar outras ideias que acabaram não sendo inseridas na versão final?
Karen e Juca: A ilustração em núcleos chapadas, sem definição de linhas, já vinha como ideia, desde que João pensou na gente pro trabalho. O caminho seria quase que colocar o nosso desenho como ele entre o texto e as obras do artista e, para que não houvesse conflito entre as imagens, fosse, dessa maneira, sintetizado. E junto com nossos desenhos, há momentos de cenas com detalhes das próprias composições de Elifas, deixando um ambiente no livro que permeia bem a produção do artista.
Palavras: Como foi o processo de trabalhar com as duas “camadas” já apresentadas na obra (o texto de João Rocha Rodrigues e a obra de Elifas Andreato), adicionando uma terceira “camada” com as ilustrações, que conversam com esse conjunto?
Karen e Juca: Desde o início, estávamos conscientes do papel que as ilustrações teriam: uma camada narrativa sobre a qual falamos na resposta anterior. Um meio do caminho que liga o texto à obra. Foi aí que surgiram esses desenhos que não se completam, não se fecham em si mesmo, e conduzem o texto às imagens históricas de Elifas.
Palavras: Um detalhe interessante presente nas ilustrações de “Vai, DJ!” é que as personagens ilustradas não possuem rosto (olhos, boca, nariz, etc.), e muitas vezes elas se “mesclam” no fundo da página. Por que vocês optaram por essa estética e quais sentidos, no ponto de vista de vocês, são construídos a partir desse estilo?
Karen e Juca: Achamos que tem a ver com uma ideia de incompletude que se apresenta desta forma, quase silhuetas. Algo que, nos parece, deixa o desenho mais leve, integrado ao papel, e permite que as cores modulem o momento de ter destaque ou se ausentar, conforme a necessidade de cada página.
Palavras: O celular é peça fundamental de “Vai, DJ!”, com a protagonista Rosa sempre conversando com suas amigas por mensagens. Como vocês pensaram no trabalho dessa relação com o mundo digital em um livro impresso, e como isso se reflete nas ilustrações da obra?
Karen e Juca: Isso foi um desejo de João, de transportar o leitor para este ritmo de interação. E isso realmente aparece em todo o decorrer do livro, mantendo tanto as mensagens de textos e e-mails trocados por rosa, quanto o compartilhamento de obras de Elifas, no fluxo do texto. São momentos em que as ilustrações se incorporam de fato à leitura.
Palavras: Na literatura infantil e juvenil em geral, o papel do ilustrador possui um destaque, muito porque a relação texto-imagens nessas obras é mais bem trabalhada, sendo a ilustração parte fundamental da narrativa. Qual é a visão de vocês sobre o papel do ilustrador nessas obras? O ilustrador é também autor?
Karen e Juca: Embora em livros juvenis a ilustração não seja imprescindível, achamos que no caso de Vai, DJ! ela tenha tido essa função de elo entre o texto e as obras apresentadas. Era primordial que a sensação de descoberta vivida por Rosa sobre a obra do artista estivesse presente no decorrer das páginas, apresentando de forma mais imediata, coloquial, as imagens que surgiam para a personagem. Sobre autoria, achamos que o nosso trabalho é parte de uma concepção criativa mais ampla que vem do João.
Palavras: Qual a expectativa de vocês para a recepção e o trabalho com “Vai, DJ!” em sala de aula? Vocês têm algum comentário para os professores que vão utilizar a obra em suas escolas?
Karen e Juca: Achamos que o mais potente nesse livro é a percepção, através dos olhos de uma garota, do universo imagético que permeia a história da música brasileira por meio das capas dos discos criados por Elifas Andreato. E aqui torcemos para que as ilustrações ajudem os leitores a se identificar com o universo do personagem, através de desenhos que não se fecham, mas convidam quem lê a completá-los, gerando algumas ideias de reconhecimento por parte dos jovens.
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