Histórias em quadrinhos nos encantam e não é de hoje. Caracterizadas por serem narrativas que reúnem a linguagem verbal em conjunto com a visual, as HQs podem ser não só utilizadas como instrumento para o entretenimento ou crítica política, mas também como suporte para o ensino em sala de aula. Por seu aspecto atrativo e de fácil comunicação, elas são uma ótima maneira de introduzir o estudante ao mundo dos livros e da leitura.

E por que não ao universo de grandes obras da literatura como um todo? Você sabia, por exemplo, que existe uma adaptação de Vidas Secas (1938), clássico de Graciliano Ramos, para HQs?

Entenda, a seguir, como trabalhar histórias em quadrinhos em sala de aula no Ensino Médio:

O que são as histórias em quadrinhos

Os primeiros registros das histórias em quadrinhos datam do início do século XX, quando surgiram as primeiras narrativas com a fórmula ilustração junto a balões com falas – onomatopeias, fonemas, sinais e outras marcações que remetam ao som das personagens ou da situação expressa no desenho.

Naquela época, as HQs tinham espaço somente em jornais, em que as obras se apresentavam no estilo de charges e faziam críticas às tensões políticas daquele tempo.

Mais tarde, surgiram as comic books – o estilo de HQs que conhecemos aqui no Brasil com o nome de gibis, como os quadrinhos de Maurício de Souza ou de Ziraldo. Este formato é caracterizado por apresentar histórias mais desenvolvidas do que os rápidos enredos das charges.

Há ainda os graphic novels, vertente das HQs que ganhou espaço no final do século passado, que tem como público-alvo jovens e adultos, com histórias e personagens mais profundos e complexos.

Adaptações da literatura nos quadrinhos: é possível?

Quando abrir uma história em quadrinhos, você pode se deparar com diferentes tipos de conteúdos em termos de originalidade.

Isso significa que uma produção voltada para HQs pode ser inédita, como os gibis da Turma da Mônica, de O Menino Maluquinho, ou séries de histórias estadunidenses da editora Marvel etc.

Existe, ainda, adaptações de obras já conhecidas dos cinemas, teatros e dos livros que podem ser transferidos para os quadrinhos. É o caso de Vidas Secas, considerada um dos principais livros do escritor alagoano Graciliano Ramos.

O romance publicado em 1938 faz parte da segunda fase do Modernismo. Tido como um expoente do movimento regionalista, Vidas Secas traz a história de Fabiano, Sinhá Vitória, Menino Mais Velho, Menino Mais Novo, a cachorra Baleia e o papagaio – uma família de retirantes que se desloca pelo sertão fugindo da seca.

Em cada um de seus 13 capítulos, Ramos apresenta a chamada “estética da seca”, ao expor seus personagens de maneira rudimentar, com a ausência de conversas entre eles e a caracterização crua da família – em um paralelo que remete à aridez da vida, como a seca que o sertanejo, nessa dura realidade, tenta sobreviver.

Mais de sete décadas após sua primeira publicação, Vidas Secas foi adaptado para os quadrinhos pela Editora Galera.

Nessa adaptação de Vidas Secas foram preservados aspectos importantes da narrativa, somados ao uso de cores que traduzem o sertão de maneira rica e repleta de sentidos, além de diferentes tipos de planos e ângulos dos desenhos, que facilitam a transmissão de emoções que a obra carrega.

Experiência em sala de aula

Para a professora de sala de leitura Tereza Cristina de Andrade, que carrega 20 anos na coordenação pedagógica e alfabetização de jovens e adultos, e atualmente trabalha em escola pública, adaptações como a de Vidas Secas contribuem para mostrar ao leitor que a transposição de uma obra literária para os quadrinhos é possível.

Em sala de aula, a professora lembra que esse tipo de adaptação pode ser usada como ferramenta quando o docente utiliza uma estratégia de leitura diferenciada – sem perder de vista o que as leituras clássicas proporcionam.

“Temos que não deixar de citar e ressaltar o atrativo que as histórias em quadrinhos oferecem para o incentivo à leitura, tornando-se uma porta de entrada para os alunos no mundo dos livros. A HQ combina imagens e textos escritos de fácil compreensão, articulando conteúdo com o cotidiano e colaborando no auxílio do desenvolvimento do hábito de leitura e ampliação do vocabulário, lembrando que tal interação não substitui a leitura em sua forma original”, fala Tereza.

Ainda de acordo com a educadora, Vidas Secas é uma obra que contribui para o Novo Ensino Médio por proporcionar a integração entre as áreas do conhecimento, que tem a finalidade de formar estudantes com um pensamento crítico, aberto às diferenças e com o pleno desenvolvimento das competências e habilidades que compõem a BNCC.

Ela ainda destaca outra obra interessante para ser trabalhada em sala de aula: Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960), de Carolina Maria de Jesus.

“Mulher, negra, mãe solteira, catadora de lixo, moradora da favela, lavadeira e tendo estudado até o segundo ano do ensino fundamental. Retrata a história de várias mulheres na mesma situação que a sua, o que traz visibilidade para a figura de uma mulher marginalizada que busca a sua sobrevivência com o duro trabalho e no aproveitamento das sobras dos mais abastados. A obra é um retrato real da vida na favela e do contexto social de quem ali reside, com detalhes e sentimentos que só quem conhece tal realidade é capaz de transmitir ao leitor”, conclui Tereza.

Os livros da Palavras Projetos Editoriais, que abarcam coleções de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Linguagens e suas Tecnologias, trazem propostas de leitura, pesquisa, reflexão, entre outros conteúdos que abordam os diferentes componentes curriculares das duas áreas, as integrações das áreas entre si e entre as demais que devem ser trabalhadas em sala de aula.

A unidade Paisagens, da coleção Palavras de Linguagens e suas Tecnologias, traz o uso dos quadrinhos em sala de aula na unidade “Como escutar e formular o novo?”, com a adaptação de Vidas Secas às HQs, além de pontos sobre a história das HQs no Brasil, tipos de narrador, planos e ângulos de enquadramentos de cenas, entre outros assuntos.

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