Sociedade das imagens: o termo parece lugar-comum. Afinal, por toda parte encontramos fotografias, quadros, outdoors. É como se existisse mesmo uma cultura do ver e do ser visto. A grande contradição, contudo, é perceber que, frequentemente, as pessoas não sabem ler imagens.

Vivemos o tempo dos instantâneos, de ver muito e esquecer rápido, de prestar pouca atenção na composição das cenas, nos seus elementos e significados, nas formas de produção. Somos, em geral, analfabetos na leitura de imagens.

As imagens são produzidas com uma intenção: passar mensagens, construir discursos, marcar posições, provocar polêmicas, divulgar e defender ideias. As imagens são, assim, preenchidas de significados. Mas esses significados só podem ser apreendidos se o observador tiver domínio dos devidos códigos para destrinchá-los.

As imagens na sociedade

O historiador Peter Burke1 afirma que pouco adianta mostrar o quadro Santa Ceia, de Leonardo da Vinci, uma das obras mais conhecidas da cultura ocidental, para um aborígine da Austrália: quando muito, ele identificará uma cena de refeição, sem qualquer outro significado, muito menos de ordem religiosa. Em outro trecho de sua obra, ele cita a importância das imagens para comunicar processos complexos:

“Uma vantagem particular do testemunho de imagens é a de que elas comunicam rápida e claramente os detalhes de um processo complexo, como o da impressão, por exemplo, o que um texto leva muito mais tempo para descrever de forma mais vaga. Daí os vários volumes de gravuras na famosa Encyclopédie francesa (1751–1765), um livro de referência que deliberadamente colocava o conhecimento de artesãos no mesmo nível que os estudiosos. Uma dessas gravuras mostrava aos leitores como os livros eram impressos, retratando a oficina de uma gráfica durante quatro diferentes estágios do processo” (BURKE, 2004).

É o mesmo caso dos conquistadores europeus, que no século XVI interpretavam as representações dos deuses indianos como se fossem demônios.

Essa habilidade de ler imagens, porém, é algo que a sociedade ocidental, em geral, perdeu, em grande parte à medida que se tornou letrada. Na Idade Média, diante de uma maioria que não sabia ler, as imagens cumpriam funções importantes.

Nas igrejas, a maior parte delas era feita para glorificar o Senhor. Mas serviam também para educar os fiéis que não sabiam ler livros, o objetivo das imagens era fazê-los perceber várias dimensões da crença cristã. Um religioso daquele período afirmava: “Nossos sentimentos são mais bem despertados por coisas vistas do que por coisas ouvidas”. As imagens naquela sociedade, em outras palavras, tinham papel decisivo na criação da experiência do sagrado.

No século XIX, quando a história da arte se firmava como área do conhecimento, surgiram alguns métodos de leitura de imagens, sobretudo voltados para análises estéticas, identificação de escolas e de estilos de pintores.

O processo de interpretação de imagens

Somente na década de 1930, na Alemanha, um grupo de historiadores da arte passou a se preocupar com essas temáticas, criando uma espécie de método para ler o conteúdo das cenas. Segundo esse método,2 é possível fazer três níveis de interpretação, cada qual resultando em um conjunto de significados:

a) Nível 1 (descrição pré-iconográfica): voltada para desvendar apenas os elementos básicos da cena, como os objetos que aparecem e os eventos representados.

b) Nível 2 (análise iconográfica): busca identificar o significado convencional, o tema principal da imagem: a santa ceia, o inferno, o paraíso, a Batalha de Guararapes etc.

c) Nível 3 (interpretação iconológica): trata-se de descobrir os princípios, os significados, as ideias, as crenças, as representações e as intenções encerradas na imagem.

O método foi inspirado no modelo de análise de textos que também destaca três níveis de compreensão: literal (aspectos formais, gramaticais), histórico (assunto) e cultural (o que o texto revela).

A proposta parte da ideia de que a imagem faz parte de uma cultura e que, portanto, só pode ser desvendada após seu entendimento. É necessário, assim, confrontar a cena com outras evidências, como textos e objetos.

Por fim, nesse processo de leitura, destaca-se a importância de se perceberem os detalhes da cena – eles é que revelam boa parte dos significados culturais.

O trabalho em sala de aula

Aos olhos de hoje, percebe-se que esse método não pode ser utilizado indiscriminadamente, por ser muito objetivo e pouco dar conta de uma obra de arte abstrata, por exemplo. Mas é um bom recurso para iniciar a leitura e interpretação de imagens, principalmente para os anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo.

Além disso, o papel da leitura e interpretação de imagens não é uma exclusividade das Artes, por exemplo, mas também da História, Geografia e demais disciplinas, inclusive da Língua Portuguesa, em razão do trabalho com textos multimodais e multissemióticos, tal como apontado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além disso, o uso da imagens em infográficos pode ser utilizado para trabalhar o pensamento computacional de forma transdisciplinar, por exemplo.

As obras da Palavras Projetos Editoriais possuem preocupação especial com as imagens, que estão longe de ser meras ilustrações, mas compõem parte significativa do conteúdo. Há também a preocupação de diversificar o conjunto de imagens, utilizando fotografias, pinturas, caricaturas, quadrinhos, entre muitas outras. Elas trazem as informações sobre o autor (quando conhecido) e o contexto de produção (técnica e data, quando conhecidas). A ideia é que o estudante se habitue a reunir diferentes informações e conhecimentos sobre essa produção.

O estudante, ainda, é convidado em diversos momentos a fazer atividades cujo objetivo é selecionar e analisar informações de imagens, buscando atentar para os seus autores, os elementos que compõem a cena e os seus significados. 

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1BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. São Paulo: Edusc, 2004.
2Sobre o assunto, consultar: PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 2007.

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