Laura Huzak Andreato, em entrevista à Palavras Projetos Editoriais, comenta sobre a concepção do livro Pelos Olhos de Minha Mãe: Diários, memórias e outras lembranças, obra aprovada no PNLD 2021 e lançada pela Palavras nesse primeiro trimestre. A obra apresenta a biografia de sua mãe, a fotojornalista Iolanda Huzak, reconstruída por fontes de informação bastante diversificadas, como matérias publicadas na imprensa, fotos familiares, documentos, diário pessoal e, claro, o acervo imagético produzido pela própria biografada.
Laura Huzak Andreato é formada em Artes Plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da USP, onde também cursou o mestrado em Poéticas Visuais. Atualmente, nesse mesmo programa de pós-graduação, prepara o doutorado. Em 2014, selecionada pela Embaixada da França no Brasil, foi fazer a residência Cité Internationale des Arts, em que desenvolveu o projeto Anotações sobre Jardins: Paris e arredores.
Em sua carreira, participou ainda de diversas exposições individuais e coletivas, entre elas Pensamiento Salvaje (Bienal Sur, Buenos Aires, 2017), Le Royale (La Maudite, Paris, 2014), Deslize (MAR, Rio de Janeiro, 2014), Paradiso (Vitrines do MASP no Metrô, 2012), Comic Sans (Centro de Cultura Contemporânea de Quito, Equador, 2012). A partir de 2010, Laura começou a desenvolver também atividades como arte-educadora, com experiências em instituições como a Escola da Cidade (SP), o Centro Cultural São Paulo e SESC-SP (Serviço Social do Comércio).
Confira abaixo a entrevista e assista também ao lançamento ao vivo da obra em nosso canal do Youtube!
Palavras Projetos Editoriais: Como foi o processo de concepção do livro? Quais eram suas intenções iniciais e como elas convergiram para a obra que está sendo publicada agora?
Laura Huzak Andreato: A partir do convite da editora para fazer um livro sobre a obra de minha mãe, eu iniciei esse mergulho profundo nas memórias e nos arquivos dela. Havia um arquivo em Word com memórias escritas por ela que eu, desde sua morte, não tinha tido muita coragem de ler por completo. Lendo-o, descobri que ela mesma tinha se encarregado de contar sua própria história, principalmente sua atuação como fotógrafa. Ela escreveu sobre as viagens que fez a trabalho, sobre as angústias que as situações difíceis que presenciava geravam, mas também sobre a saudade dos filhos, sobre a infância.
Eu então iniciei, com pequenos textos, um processo de costura entre seus escritos e suas imagens. Fui adicionando uma nova camada de memórias afetivas de filha e de minha redescoberta entusiasmada da profissional e mulher incrível que ela foi. O projeto gráfico do livro, feito pela designer Carla Chagas, também deu conta de traduzir esse processo da forma como ele foi mesmo, esses achados aqui e ali cheios de delicadezas.
Palavras: Quais as principais dificuldades em conciliar a memória afetiva da “filha Laura”, com a objetividade necessária para o trabalho da “biógrafa Laura”?
Laura: Eu não senti muita dificuldade nesse sentido, porque desde o começo essa impossibilidade da objetividade já estava posta pra mim. Não seria possível estar no papel da biógrafa isenta diante de um assunto tão entrelaçado na minha vida pessoal, nas minhas emoções. Acho que essa é uma biografia totalmente afetiva, poética e subjetiva.
Palavras: Como foi trabalhar temas densos como a condição de vida de mulheres e trabalhadores braçais pelo Brasil, numa obra voltada para o público infantojuvenil?
Laura: Minha mãe, ao longo de sua carreira foi co-autora de livros infantojuvenis que traziam através de imagens produzidas por ela, questões sociais importantes como o trabalho infantil, para esse público. Acredito que são temas que podem e devem ser discutidos desde cedo, com o devido cuidado e adequação à cada faixa etária, é claro.
Em Pelos Olhos de Minha Mãe os temas estão apresentados em sua verdade, como denúncia, mas sobretudo como motes para discussão sobre a realidade que muitas dessas crianças e jovens vivem e outros nem conhecem.
Palavras: Que lição as fotos de Iolanda Huzak deixaram para o país?
Laura: A obra de minha mãe deixa contribuições importantes não só para o fotojornalismo, mas também para a sociedade brasileira como um todo. A forma como ela orientou sua carreira usando a fotografia como instrumento de registro, denúncia, mobilização política e ferramenta educativa, para mim, é a maior delas.
Palavras: Quais são suas expectativas para a presença de “Pelos Olhos de Minha Mãe” nas escolas públicas e privadas do Brasil? Você possui algum comentário ou recomendação aos professores que vão trabalhar com a obra?
Laura: Minha mãe sempre teve a preocupação de trabalhar temas sociais presentes em nossa sociedade no contexto da educação por meio das imagens que produzia. No final de sua carreira, esteve muito engajada em apresentar suas fotografias e experiências em processos formativos e educativos em escolas e ONGs, trabalhando direto com alunos e professores. Ela também tinha vontade de fazer um mestrado sobre o poder de mobilização da fotografia em processos educativos. Então eu acho que esse é um caso feliz de uma obra chegando ao lugar que deveria chegar: a sala de aula. Isso me alegra muito, pois eu sei que era algo que a importava muito.
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