Confira a entrevista com a ilustradora de O dragão da maldade e a donzela guerreira, Lucélia Borges. O trabalho em conjunto com o autor, os desafios e o processo de produção das xilogravuras foram alguns dos assuntos abordados. Confira o texto completo abaixo e saiba mais sobre a obra clicando aqui.
Lucélia Borges, ilustradora da obra, é baiana, de Bom Jesus da Lapa, e nasceu em 1981. Sua bisavó Maria foi sua mestra e inspirou seu interesse pela cultura popular. Adulta, mudou-se para a cidade de São Paulo e tornou-se produtora cultural, contadora de histórias e xilogravadora. Ilustrou vários folhetos de cordel e livros com a técnica da xilogravura.
Palavras Projetos Editoriais: Você e Marco Haurélio já trabalharam juntos em “A jornada heroica de Maria” e “Contos encantados do Brasil”. Como foi criar xilogravuras para mais uma obra do autor?
Lucélia Borges: Além desses dois livros, tem também o mais recente O Sonho de Lampião! Trabalhar junto com o Marco é fantástico porque ele sempre amplia as referências para um trabalho, essa troca é constante, mas quando se está em um trabalho que ele escreveu, fica mais interessante fazer um paralelo entre minha leitura imagética e a dele.
Palavras: Qual foi o principal desafio na produção das xilogravuras de “O dragão da maldade e a donzela guerreira?”
Lucélia: O maior desafio foi o de encontrar uma composição que desse conta da complexidade da história, que não é maniqueísta e que busca desconstruir as relações de poder. A cena do clímax da história, Sofia encarando o dragão, foi a mais desafiadora para ser composta, materializar o arquétipo maléfico do dragão exigiu mais tempo de elaboração.
Palavras: Na sua visão, como as xilogravuras auxiliam ou complementam a história escrita por Marco Haurélio? E como elas se diferenciam e destacam-se de outras técnicas de ilustração, considerando o contexto da obra?
Lucélia: As ilustrações são, quase sempre, intertextos, essa é intenção do ilustrador quando se compõe uma obra. Nesse caso, o texto do Marco Haurélio traz uma imagética rica, atravessada por temáticas universais, emoldurada por uma “mística” das paisagens e acontecimentos que possibilitam variáveis de cenas e imagens, e as xilogravuras buscaram sintetizar, destacar, revelar esses momentos mais “altos”. A xilogravura no Brasil é casada com a Literatura de Cordel, é quase uma complementação, e elas caminham juntas e livres, por isso, além do texto ser em poesia narrativa, esse diálogo acontece naturalmente, e o jogo de luz e sombra que a técnica do entalhe permite, as xilogravuras conseguiram destacar os antagonismos da história.
Palavras: Como foi o processo de produção das xilogravuras? Você chegou a fazer diversas versões de uma mesma ilustração? Como é o processo de montagem de cada negativo? E como a impressão também afeta o resultado de cada ilustração?
Lucélia: Eu sou contadora de histórias, e meu processo de compor ilustrações é muito semelhante ao da contação; primeiro eu preciso que a história habite em mim, que eu consiga intimidade com ela, a busca das imagens mais fortes se dá no momento que estou lendo, uma, duas, várias vezes o texto. Uma única cena teve algumas versões, até eu encontrar a que melhor respondia, aquela na qual Sofia inicia a jornada e aparece na encruzilhada — eu fiquei entre retratar a saída dela com a mãe chorando e ela no encontro com a velhinha que a aconselha e inicia a seu disfarce. O trabalho com a madeira é sempre coautoral, a madeira também dá seu tom tanto no entalhe, porque, a depender das fibras, se tem maior ou menor dificuldade em manter seu traço, que foi predefinido, e na hora da impressão, se tem um resultado que nunca é ruim, mas com leves modificações, natural do processo. Aí é que mora a beleza da xilogravura.
Palavras: Qual sua expectativa para a recepção dos leitores que irão conhecer essa história, seja na escola, seja em suas casas?
Lucélia: Sou muito uma otimista realista, e além da expectativa de que todos gostarão da história, do livro, que está todo lindo — a mágica da diagramação em juntar texto e imagem, manter as texturas etc., que já é uma certeza de que vão gostar —, a devolutiva de quem já teve contato é muito boa! Acredito que esse livro é um candidato para estar entre os preferidos dos leitores.
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