A interdisciplinaridade é um tema bastante enaltecido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e uma proposta que muitos profissionais da educação veem como algo a ser estimulado.

Nesse sentido, o trabalho interdisciplinar entre as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e a Matemática e suas Tecnologias no Ensino Médio surge como opção para ser aplicado em sala de aula. Entre as propostas que exemplificam a interdisciplinaridade dessas duas áreas do conhecimento está o ensino do sistema eleitoral brasileiro.

Interdisciplinaridade

Atualmente, o Novo Ensino Médio, conforme previsto pela BNCC, é composto por quatro áreas do conhecimento. São elas:

  • Linguagens e suas tecnologias;
  • Matemática e suas tecnologias;
  • Ciências da Natureza e suas Tecnologias;
  • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Segundo o documento, a ideia é, com justiça, integrar componentes das diferentes áreas do conhecimento para fortalecer as relações interdisciplinares e oferecer melhor compreensão da realidade pelo estudante.

Nesse sentido, a proposta de se trabalhar de maneira interdisciplinar em sala visa mudar os saberes das Linguagens com as Ciências da Natureza, da Matemática com as Ciências Humanas, das Ciências da Natureza com a Matemática etc.

Como as Ciências Humanas e a Matemática podem ser trabalhadas juntas

Para Elias Evangelista Gomes, professor de sociologia, doutor em Educação e um dos autores da Palavras Projetos Editoriais, a integração Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e a Matemática e suas Tecnologias não só é possível como necessidade.

Ele cita, por exemplo, o volume da obra específica “Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em diálogo com a Matemática”, da Palavras Projetos Editoriais.

Na visão do educador, com a obra destinada ao PNLD foi possível pensar de maneira integrada às dimensões filosófica, geográfica, histórica, matemática e sociológica de certas características sociais, como a economia, o trabalho, a política e a educação.

“Esse diálogo entre Ciências Humanas e Matemática ocorre de maneira pontual em algumas escolas ou não ocorre em muitas outras. Com o livro, isso passa a ser um projeto educacional de massa, no âmbito nacional, para todas as escolas, favorecendo o pensamento crítico, aprofundado e plural, que confronta o senso comum”, afirma o professor.

Na avaliação de Gomes, contudo, para que esse trabalho entre as Ciências Humanas e a Matemática ocorra, é preciso que os profissionais da educação que trabalham com essas duas frentes realizem o diálogo contínuo. Como sempre, é preciso planejamento .

“O primeiro passo é a equipe docente se reunir, conversar mais entre si, para avaliar e planejar como cada disciplina pode contribuir nas abordagens dos temas.”

Sistema eleitoral: quando Ciências Humanas e Matemática andam juntas

Embora possa parecer um assunto pouco palpável, o ensino do sistema eleitoral brasileiro é possível ser tratado de uma forma didática na Educação Básica, e o melhor, trazendo aspectos de duas áreas do conhecimento em conjunto.

Para Elias Evangelista Gomes, falar do sistema eleitoral com estudantes é mais do que necessário.

“A democracia carece que a população conheça melhor o sistema político vigente. Estudar o sistema eleitoral permite compreender os aspectos sociológicos da participação política, fazer uma geografia das eleições, examinar filosoficamente os valores presentes nas campanhas e apreender a história sobre a memória política”, avalia Gomes.

Na prática

Para além da análise e partindo para a prática, o sistema eleitoral traz alguns elementos pertinentes para o trabalho conjunto entre Matemática e Ciências Humanas.

Hoje o sistema eleitoral traz dois modelos para a eleição de representantes aos cargos Executivo e Legislativo no país: o sistema majoritário e proporcional.

Para a definição de cargos no Executivo (presidência da República, governadores e prefeitos) e as vagas do Senado, nos quais vigora o sistema majoritário, é preciso que o candidato receba a maioria dos votos do eleitorado do respectivo município ou estado no qual está concorrendo, ou do país. Em municípios com menos de 200 mil eleitores, essa votação ocorre apenas em um turno;  nas demais cidades, caso o candidato mais votado receba menos que a metade dos votos mais um no primeiro turno, uma nova votação é realizada entre os dois candidatos mais votados – o chamado segundo turno.

Para os cargos legislativos na Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, a eleição é chamada de proporcional, feita a partir de cálculos envolvendo o quociente eleitoral (QE), que é o número total de votos válidos divididos pelo número de cadeiras no respectivo parlamento, e quociente partidário (QP), que é o número total de votos de um determinado partido ou coligação dividido pelo quociente eleitoral, determinando a quantidade de cadeiras que cada chapa terá direito.

“É viável trabalhar [o sistema eleitoral] através de pesquisas, elaboração de tabelas, mapas, gráficos, entrevistas e análises, procedimentos estatísticos, raciocínio proporcional e identificação de padrões. Isso pode garantir uma compreensão mais complexa e interessante sobre a democracia”, diz Gomes.

De acordo com o professor, é interessante também pensar no funcionamento geral das eleições como um assunto para ser discutido em aula e ressaltar a integração entre as duas áreas do conhecimento.

Ele aponta o uso de gráficos sobre a composição partidária no Congresso Nacional e a sondagem da composição das câmaras municipais onde as escolas estão localizadas como um exemplo de tema para trabalhar com os estudantes e tornar o assunto mais próximo da realidade dos jovens.

Além disso, é possível trazer alguns desafios que podem deixar os estudantes mais estimulados. “Realizar uma pesquisa de opinião pública sobre avaliação de governo. Assim, é possível pensar científico e criticamente seus resultados.”

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