No campo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o trabalho com conceitos como “indivíduo”, “fronteira”, “sociedade”, entre outras terminologias, é frequente e essencial para a compreensão dos componentes dessa área do conhecimento. 

A definição desses conceitos, entretanto, nem sempre fica evidente. Por isso, reunimos os significados das principais categorias de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) presentes na BNCC para o Ensino Médio, por que é importante trazê-las à sala de aula e como o professor pode se manter sempre atualizado em relação aos conceitos – que passam por constantes atualizações conforme as transformações do mundo.

Categorias das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: significados

Indivíduo

As sociedades são formadas por indivíduos. Diferentes teorias definem o que é um indivíduo, como um estruturalista, na qual a sociedade é composta por diversas estruturas (daí o nome), como costumes, língua, economia etc, e o indivíduo estruturalista segue formado nesse sentido.

“Outras vertentes sociológicas, como de Anthony Giddens e Pierre Bourdieu, embora reconheçam a força da estrutura, não concebem seu poder sobre os indivíduos de forma plena, permitindo possibilidades de agir de maneira diferente do que a estrutura estabelecida, de tal forma a defenderem que tanto a estrutura era sobre os indivíduos (agentes), quanto eles eram sobre a estrutura”, dizem Arno Aloisio Goettems e Cosme Freire Marins, professores de Geografia e História, respectivamente, e autores de coleções de livros didáticos sobre Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Palavras Projetos Editoriais. 

Espaço e Tempo

O termo espaço é utilizado com diversos significados, podendo ser denominado desde uma área específica da superfície terrestre até o Universo (espaço sideral). Nas CHSA, porém, o espaço é, ao mesmo tempo, o objeto de estudo dessa ciência e, também, uma categoria de análise.

“De acordo com Milton Santos, o espaço compreende um sistema de objetos (inicialmente naturais e gradativamente substituídos por objetos técnicos, criados pelo meio do trabalho humano) e um sistema de ações. Esses sistemas, em interação constante, tornam o espaço geográfico dinâmico, mudando-o”, explicam Goettems e Cosme Freire Marins. 

A categoria tempo, por sua vez, tem uma importância central na análise da sociedade e sua relação com a natureza: na narração de mitos e a criação do mundo e dos seres vivos; na natureza, marcada pelos ciclos de dias, luas, estações e de anos; na cronologia dos eventos históricos; na organização do cotidiano.

Território, territorialidade e fronteira 

A definição de fronteira é importante para entender o que é território e, consequentemente, territorialidade.

No sentido epistemológico, a ideia de fronteira é compreendida como espaço de troca e gerador de conhecimentos. Os professores explicam, ainda, como a palavra “fronteira” carrega um significado que vai além do sentido concreto – muitas vezes confundido com limites territoriais de Estados Nacionais. “As fronteiras se manifestam também e concretamente nos espaços urbanos, nos quais expõem os conflitos e contradições sociais; nos espaços rurais, com o avanço das fronteiras agrícolas, como atualmente na Amazônia brasileira; nos espaços internacionais, onde as fronteiras ora se tornam mais abertas ou “porosas”, ora se apresentam como espaços de segregação e de tensão.” 

A categoria território carrega uma definição no plano concreto e também uma construção de seu significado no plano social.

De acordo com Goettems e Marins, território é uma extensão terrestre submetida a um governo e às ações dele sobre essa área, sendo a delimitação de fronteiras importante para definir essa extensão territorial de determinado país, que pode abranger áreas continentais e oceânicas, cuja soberania deve ser reconhecida em todo o mundo. “Além disso, quando se trata de um território nacional, trata-se de uma condição fundamental para a construção da identidade nacional, uma vez que é composto das relações entre indivíduos que compartilham o sentimento de pertencer a um lugar e a uma cultura comum.

A construção de um território, entretanto, é um resultado não só da demarcação de uma linha que divide fronteiras. Ele resulta de embates de poder entre os grupos que habitam e transformam o espaço em questão. Sendo assim, o território pode ser visto como um resultado de processos históricos e criado pelos seres humanos em seu processo de ocupação e transformação do espaço geográfico.

A territorialidade, por sua vez, são as relações socioculturais, econômicas e políticas estabelecidas por um indivíduo ou uma coletividade no território. “O Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas (ONU), uma grande empresa transnacional ou uma Organização da Sociedade Civil (OSC), entre outras organizações internacionais, constroem, por exemplo, uma territorialidade que transcende as fronteiras nacionais”, exemplificam os professores.

Lugar

Conceitualmente, a categoria lugar é o espaço de articulação entre a horizontalidade (relações internas, próprias do lugar) e a verticalidade (relações externas, provenientes de outros lugares). É, portanto, o espaço onde as atividades locais e globais se articulam.

Na prática, o lugar está associado às relações sociais que construímos no cotidiano. Por exemplo: os moradores de uma rua que criam uma noção de pertencimento e de identidade individual e coletiva naquele local. Daí a possibilidade de embasamento de estudos sobre o lugar na fenomenologia.

Região 

Para entender o conceito de região, é preciso levar em conta os aspectos sociais mais do que as questões naturais. 

A regionalização, de acordo com os professores, aumenta o nível de complexidade na definição das unidades regionais em tempos de globalização, marcado pelas múltiplas relações econômicas, sociais, políticas e culturais em escala global.

Paisagem

O termo paisagem está presente no senso comum, frequentemente reproduzido por estudantes como “um lugar bonito” ou “onde tem natureza”. Porém, esse termo remete a uma categoria com diferentes concepções teóricas no campo científico.

Paisagem compreende tudo o que vemos e isso inclui cores, movimentos, odores, sons, entre outras manifestações naturais e sociais. 

Relação sociedade-natureza

As relações entre sociedade e natureza são fundamentais para os estudos em CHSA, destacam Goettems e Marins. Isso porque, com as transformações socioespaciais deste início de milênio, essa relação ganhou ainda mais foco. 

Conforme explicam os professores, para entender essa relação, o ponto de partida é compreender que a sociedade se organiza e transforma o espaço geográfico.

Outro aspecto importante é que cada sociedade constrói e tem a sua identificação própria sobre o conceito de natureza. 

“Na sociedade ocidental e capitalista, a natureza adquiriu, ao menos no senso comum, uma significação que se opõe à de cultura – que é considerada superior e domina a natureza. Tal concepção era predominante no século XIX, quando a natureza estava apenas relegada a um objeto a ser possuído”, pontuam os educadores.

Nesse sentido, hoje é sabida a importância do conhecimento de diversos grupos sociais, como os povos indígenas, que contribuem para superar as limitações e contradições da atual sociedade. 

Cultura e Ética

A ética e a cultura são dois conceitos muito relacionados ao comportamento do indivíduo e da sociedade de uma forma geral. São atitudes que trazem reflexões sobre questões de bem maior, objetivos, valores e direcionamento que orientam um padrão dessa pessoa ou mesmo da comunidade em que ela vive.

“Quando sabemos que o consumo de determinado produto afeta grandemente o meio ambiente, é ético continuar consumindo? Se todas as pessoas boicotarem o produto, ele continuaria sendo fabricado nas mesmas condições? Essas questões de caráter ético devem ser levantadas”, exemplificam os professores.

Política e Trabalho

Pela definição de Aristóteles, um dos primeiros pensadores a definir política, esse conceito está relacionado à participação do indivíduo no mundo público. Porém, o termo ganhou diferentes significados ao longo do processo histórico – sendo que uma ideia se mantém em todas essas definições: as relações de poder dos indivíduos entre si, entre os indivíduos e o Estado, entre os indivíduos e as instituições etc. 

“Dessa forma, viver em sociedade implica, necessariamente, estabelecer relações de poder, ou seja, relações políticas, seja no local de trabalho, na família, nos espaços públicos; com os mais variados agentes públicos e privados”, dizem Goettems e Marins.

O trabalho é um elemento fundamental para a constituição da identidade dos sujeitos, além de determinar, cada vez mais, os papéis a serem desempenhados pelos diferentes indivíduos nas sociedades em que vivem. É por meio do trabalho que conseguimos suprir nossas necessidades de materiais.

No entanto, Goettems e Marins enfatizam a importância da discussão sobre o trabalho no Brasil não deixar de abordar a questão da escravidão, que deixou marcas profundas na sociedade, dentre as quais a desqualificação das profissões caracterizadas por trabalhos manuais, à exceção daquelas que garantem distinção aos seus praticantes – como a de cirurgiões médicos, por exemplo.

Como se manter atualizado sobre as categorias do CHSA

As categorias citadas anteriormente são revistas e suas definições alteradas ou ampliadas. Dessa forma, o que se entendeu por “lugar” ontem pode não ser o mesmo amanhã.

Isso porque o avanço das pesquisas em CHSA, assim como nas demais áreas do conhecimento, é contínuo e muda de acordo com as condições em que são produzidas e com os problemas para os quais os científicos buscam soluções.

Nesse sentido, um professor que se formou há mais tempo, com vivências acadêmicas e de prática docente, pode acompanhar de perto essas atualizações. 

“Mais do que se adaptar, as transformações do mundo requerem um olhar crítico do educador, tanto em relação às próprias mudanças quanto em relação ao seu próprio papel como educador. Nesse papel certamente se encontra, entre outras responsabilidades, o de desenvolver na sala de aula (e fora dela) a percepção dessas mudanças no mundo pelos estudantes e ajudá-los a se tornarem sujeitos a essas mudanças. Para ser protagonista de sua aprendizagem, como indica a BNCC, o estudante precisa fazer essa leitura do mundo, enxergá-lo e saber como atuar, e os professores do CHSA, à luz das categorias de análise específicas dessa área do conhecimento, têm um papel insubstituível nesse processo”, finalizam os professores.

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