Dentro do campo artístico, as artes cênicas englobam a dança, a música e o teatro. Esse último é facilmente adicionado às grandes casas de espetáculo, ao palco e aos atores que dão vida aos personagens da história contada.
A linguagem do teatro, entretanto, não está restrita às salas monumentais. Ela pode ser aplicada nas escolas e ainda servir de instrumento para que os estudantes aprimorem seus relacionamentos interpessoais. “O teatro é a arte do encontro, dizem por aí. E é verdade”, afirma Luiz Fernando Matos Rocha, professor e pesquisador da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (FALE/UFJF).
O teatro através do tempo
O exercício performático do ator, muito usado no teatro e outras artes cênicas, existe desde os primórdios da humanidade. Porém, foi na Grécia Antiga, nas festividades para o deus Dionísio, que surgiu o embrião da linguagem teatral conhecida atualmente. Com o Teatro Grego nasceram os gêneros “Drama” e “Comédia”, além da função do ator – a pessoa que representava papéis.
Com a repressão da Igreja Católica ao longo da Idade Média e o seu medo de que a linguagem teatral tirasse o caráter sagrado das missões, as representações migraram dos espaços eclesiásticos para as praças públicas. Os temas também mudaram radicalmente: no lugar de rituais, entraram nas críticas sociais e nas farsas com personagens cheios de estereótipos.
Já no Renascimento, a arte teatral ganhou mais espaço e incentivo entre a nobreza, especialmente em países como a Itália e a Inglaterra, com a rainha Elizabeth I que adorava o estilo. Foi nesse momento que ascenderam escritores europeus de grandes peças, como Shakespeare e Moliére.
Aqui no Brasil, o teatro chegou nessa mesma época com os padres jesuítas como ferramenta de catequização da população indígena que habitava o território antes da chegada dos portugueses – eis o nome teatro de catequese . A linguagem teatral era usada pelos párocos por ser um instrumento que facilitava a apresentação dos ensinamentos da fé cristã, era acessível e podia ser misturada com outros elementos artísticos – como a dança e a música.
No final do século XVIII, com a burguesia ganhando espaço e poder, o teatro passou a refletir mais a realidade de tal grupo. Na época, abordamos muitos dilemas sobre o casamento, finanças, vida social e outras questões do dia a dia da burguesia.
A crítica social e a preocupação em se discutir os problemas da realidade da sociedade e da política voltam a tomar espaço do teatro no século XX. O que muda, porém, é a necessidade de apresentar peças teatrais em grandes casas ou com o envolvimento de bastidores.
Atualmente o teatro se dá de duas formas: os grandes espetáculos, inspirados principalmente no modelo comercial norte-americano da Broadway; e o teatro alternativo, feito por meio de pequenas produções. Os temas variam muito e são um grande aglomerado de todas as experiências e narrativas que a linguagem teatral já abordou ao longo de sua história: críticas políticas, sociais, questões do cotidiano etc.
Oficina Teatro na Escola: estudo do caso
As escolas de Educação Básica são outros espaços de abrigo para a linguagem teatral. Por meio de jogos teatrais (apresentação de peças, oficinas etc) é possível ampliar, melhorar e estabelecer as relações sociais dos estudantes. É o que mostra a oficina Teatro na Escola, da Faculdade de Letras da UFJF.
O projeto pertence à graduação da Faculdade de Letras e acontece desde 2012 quase integralmente na Escola Municipal Murilo Mendes, unidade de Ensino Fundamental I e II localizada no município onde está a universidade.
O propósito da oficina é dar visibilidade à linguagem teatral e sua contribuição para o ensino e a aprendizagem da língua materna pelos estudantes da escola – interpretação e produção de textos – bem como para as interações docente-discentes e para a formação intelectual e crítica de cidadãos.
Um exemplo do enriquecimento da vida dos estudantes com o uso dos jogos teatrais se deu com a exploração do tema “bullying”.
“A questão do bullying, que não é circunscrita ao espaço escolar, emergiu ao longo das atividades, e a resposta que demos (e damos) a ela envolve novamente o que fundamenta o trabalho: debate, discussão, conversa, muita conversa, fundamentados por textos de apoio trabalhados em sala de aula”, lembra Matos Rocha, docente responsável pelo Teatro Oficina.
O trabalho com o bullying ocorreu durante os ensaios da peça “A Aurora da Minha Vida”, de Naum Alves de Souza. A temática precisou ser profundamente questionada, uma vez que a peça traz um repertório cruel de ações de bullying e isso poderia ser entendido como um endosso a ele e não uma crítica. “No entanto, logo na primeira leitura, os estudantes começaram a se dar conta dos impactos da agressividade verbal nos destinos de cada personagem, problematizando muitas falas de personagens preconceituosos e autoritários. A reação dos estudantes acabou fortalecendo o espírito crítico”, pontua Matos Rocha, docente responsável pelo Teatro Oficina.
Para o professor da UFJF, a linguagem teatral é muito oportuna para trabalhar casos de bullying por permitir o exercício de estar no lugar do outro em constante troca de papel. “Essa permuta contínua sensibiliza os estudantes para o ato de se colocar na ‘pele’ subjetiva de um personagem diferente dele. Isso fomenta a empatia, algo extremamente necessário para a formação cidadã.”
Além de fortalecer as relações entre os estudantes, os jogos teatrais também podem ser uma ferramenta de ensino para as competências ensinadas a eles – facilitando, inclusive, a interdisciplinaridade entre as áreas de conhecimento do Novo Ensino Médio.
“Aula é um gênero muito mais próximo do teatro do que imaginamos. As metodologias multimodais adotadas hoje em sala de aula, de recursos variados, já fizeram parte do teatro há milênios (…) Um texto dramatúrgico pode ser base para uma aula de matemática, por exemplo. ‘O número de anunciados de determinado personagem o tornaria mais ou menos relevante para a trama? Como segmentar anunciados para vencer unidades contáveis?’ Logicamente isso depende muito da disposição docente e da equipe pedagógica”, analisa Matos Rocha.
Essas foram algumas ideias para trazer o teatro para dentro da escola. Nos livros da Palavras Projetos Editoriais, que abarcam coleções de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Linguagens e suas Tecnologias, apresentam são outras propostas de leitura, pesquisa, reflexão, entre outros conteúdos que trazem as diferentes habilidades das áreas do conhecimento e as integrações entre si e as demais que devem ser trabalhadas em sala de aula.
O volume Viagens , da coleção Palavras de Linguagens e suas Tecnologias , por exemplo, traz especificamente um capítulo sobre o teatro e a linguagem artística.
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