Literatura | Campos de Concentração

Literatura

Campos de Concentração
Narcís Molins i Fábrega e Josep Bartolí

Campos de concentração

A livro apresenta um registro raro dos campos de concentração onde os refugiados espanhóis foram internados.

Sobre a obra

Este livro apresenta a realidade dos campos de concentração onde os refugiados espanhóis foram internados no final da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando os republicanos Bartolí e Molins i Fábrega cruzaram a fronteira juntamente com os milhares de espanhóis que fugiam da repressão do exército vencedor. Os refugiados, porém, eram internados em campos guardados por tropas coloniais.

 

Os desenhos originais de Bartolí e os textos de Molins i Fábrega, testemunhas do sofrimento e da barbárie de uma época terrível, retratam de forma chocante a triste realidade que viveram.

 

Realidade esta que seria o prelúdio da destruição e morte a devastar, adiante, o continente europeu: a crueldade dos campos de concentração, que atingiria limites inimagináveis.

 

De forma única, o lápis e a tinta de um desenhista e as palavras de um escritor compõem, com tanta precisão, um documento vivo, doloroso e brutal.

Conheça os autores de Campos de Concentração

  • (1901-1962), jornalista e combativo militante catalão, atuou na Esquerda Comunista ao lado de Andreu Nin (1892-1937) e fez parte do Comité Executivo do Partido Operário Unificado Marxista (POUM). Nos primeiros meses da Guerra Civil Espanhola, trabalhou para o governo da Catalunha, mas após a ilegalização do POUM, em 1937, foi para a França, de onde emigrou para o México anos depois. É autor também de El Códice Mendocino y la Economía de Tenochtitlán (1956).

  • (1910-1995) nasceu em Barcelona e ainda jovem começou suas atividades artísticas como desenhista e ilustrador. Foi um dos fundadores do Sindicato de los dibujantes e, durante a Guerra Civil Espanhola, atuou no Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM). Em 1939, dois meses antes do fim da Guerra, conseguiu atravessar os Pirineus em direção à França, onde acabou sendo preso pela Gestapo. Passou por vários campos de concentração, o último deles foi o de Dachau, de onde conseguiu fugir e, como muitos outros espanhóis, atravessou o oceano e chegou ao México. Na América, retomou suas atividades artísticas e se aproximou de Diego Rivera e Frida Kahlo. É também autor de Caliban (1971) e The black man in América (1975). Em 1973, recebeu o prêmio Mark Rothko de Artes Plásticas, e em 2020, sua história foi tema do filme de animação Josep, dirigido por Aurel.

  • Ivan Rodrigues Martin possui graduação, bacharelado e licenciatura em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa e Espanhola, pela Universidade de São Paulo; com mestrado, doutorado e pós-doutorado na mesma instituição. Atualmente, é professor no curso de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Desenvolve pesquisas sobre representações literárias e artísticas da Guerra Civil Espanhola e sobre ensino e aprendizagem da leitura do texto literário em castelhano. Atuou também como autor de livros didáticos de espanhol.

  • Professora titular de literatura espanhola na Universidade de São Paulo. É graduada, mestre e doutora em Letras pela mesma Universidade. Obteve o título de Livre-docente em Literatura Espanhola em 1999, foi vice-presidente do conselho editorial e diretora presidente da Editora da USP. Suas pesquisas tratam das relações entre literatura, história e política no século XX, tanto na Espanha como no contexto ibero-americano.

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Sobre a obra

No mês de fevereiro de 1939, mais de meio milhão de homens, mulheres e crianças batiam às portas do mundo pedindo asilo para salvar suas vidas e sua liberdade. Nessa ocasião, as fronteiras do mundo coincidiam com os limites entre a França e a Espanha.

Eram os restos de um exército e de um povo que souberam defender a sua liberdade e a liberdade de todas as pessoas da Terra. Representavam o espírito dos povos da Espanha.

Ao se levantarem em defesa daquilo que tanto lhes havia custado, lançaram a todos um grito de alerta que poucos quiseram escutar. Apenas alguns milhares de homens de diferentes países ouviram a mensagem e atenderam ao chamado. Juntos lutavam nos campos da Espanha; juntos buscavam agora a salvação de suas vidas; juntos iam pagar, na derrota, pelo fato de terem lutado em defesa de um ideal.

Poucos meses mais tarde, grandes personagens entre os que mandavam no mundo iam se apresentar como os mártires pela defesa da liberdade dos homens.

Narcís Molins i Fábrega

A Guerra Civil Espanhola

A Guerra Civil Espanhola foi a batalha mais longa e sangrenta vivida por aquele país, porque ela dividiu em dois polos opostos a população em todos os espaços sociais: o minúsculo povoado, as cidades, as fábricas, as fazendas, as escolas e as famílias. Um lado era liderado pelo governo republicano, eleito pelo voto nas três eleições realizadas, a cada dois anos, desde 14 de abril de 1931; o outro era chefiado pelo general Francisco Franco, que organizou um golpe de Estado no dia 18 de julho de 1936.

 

O golpe conduzido pelo general Franco reunia a Igreja, a monarquia e membros do alto comando do exército, mantendo e consolidando a coesão de sua origem. O outro bloco ampliou-se ao longo desse período. Nesse processo, aliavam-se, de modo oportunista, um membro da dinastia dos Bourbon, setores mais liberais do exército e representantes da burguesia, que se fortalecia com o tímido crescimento da indústria.

 

Nos primeiros dias de fevereiro de 1939, mais de meio milhão de espanhóis caminharam em direção aos Pirineus; em março de 1939, uma multidão saiu de Madri para o porto de Valencia, e a população que não cabia nos navios foi andando para o sul até o porto de Alicante, sendo deixados em Oram, Argélia, para onde os franceses enviaram os espanhóis que desembarcaram para os campos de concentração já existentes.

 

Meio milhão de espanhóis tentaram cruzar os Pirineus. Em toda a trajetória, muitos morreram por fome e pelo frio daquele inverno rigoroso. E, na fronteira com a França, ficaram sujeitos aos humores do governo, também pressionado pelo anticomunismo da imprensa e das cadeias de rádio, pois o país não deveria acolher aqueles “indesejáveis”. Então, ao passarem, eram destinados aos campos de concentração, cujos arames os mantinham do mesmo modo apinhados, sem comida e à mercê das intempéries. Mas em maio de 1940, os “cidadãos” franceses viram Hitler ocupar a maior parte de seu país em um único dia e estabelecer a zona da “França livre” em Vichy, sob o comando do general Pétain, tão colaborador que aplicou as leis nazistas, o que fez com que a companhia de trens franceses transportasse em vagões fechados, diretamente para Mauthausen, tanto judeus quanto os considerados “perigosos espanhóis” antifascistas.

 

Muitos que saíram clandestinamente da França usaram navios atracados no porto de Marselha, caso dos autores desta obra, que puderam chegar ao México.

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