Como se dá o desenvolvimento de um material didático? A professora Ana Guerrero conversou conosco e contou mais detalhes sobre o processo de produção da coleção Palavras para Integrar, além de comentar a importância dos livros didáticos, os desafios da implementação das atividades em sala de aula e também as potenciais do trabalho com projetos para a avaliação escolar.
Com experiência no trabalho interdisciplinar como professora de Geografia da Educação Básica, Ana Guerrero ressaltou o quanto essa vivência foi relevante para definir os projetos que foram desenvolvidos na coleção. Para ela, o maior desafio nesse processo foi considerar as diversas realidades e contextos presentes na sociedade brasileira. “Dadas as desigualdades socioeconômicas e socioespaciais do nosso país, pensar em projetos interdisciplinares na escala nacional é um enorme desafio para os autores de materiais didáticos, principalmente quando consideramos as recentes mudanças pelas quais a educação brasileira tem passado nos últimos três anos, em especial o Ensino Médio”, comenta.
Para resolver essa questão, foram propostos seis temas da contemporaneidade que eram interessantes, significativos, instigantes e adequados à realização de projetos por meio de metodologias ativas, pesquisas e criação. Para cada um dos temas escolhidos, identificaram-se as metodologias mais adequadas. A partir dessa escolha, formularam-se situações-problemas amplas que se fazem presentes no cotidiano dos jovens brasileiros, independentemente da localidade que se encontram, e que deveriam ser solucionadas ao final da investigação. De acordo com a coordenadora pedagógica da Palavras, Cibele Lopresti, para a decisão dos temas de cada projeto, “revisitamos os assuntos mais interessantes para os nossos jovens, os conteúdos que envolvem o estudo de tais temas, e, ainda, a melhor maneira de promover reflexões sobre o foco de seus interesses. Afinal, nossa intenção foi concretizar, junto aos estudantes que estarão com nossos livros, a formulação de perguntas potentes sobre diversos assuntos e, ainda, apoiá-los na busca de respostas”.
Relacionada a esse processo de investigação, Ana Guerrero ressaltou que a avaliação escolar hoje é muito diferente daquela praticada há dez anos. A avaliação somativa, que privilegia resultados e desempenho, tem lugar ao conceito de avaliação formativa, que considera a evolução da aprendizagem do aluno no seu percurso. “Acredito muito no potencial da avaliação formativa, nas autoavaliações, na regulação e na autorregulação da aprendizagem, pois penso que o aluno de fato se apropria e se responsabiliza por aquilo que aprende à medida que assume protagonismo em sua trajetória estudantil. Os projetos preveem momentos de parada para que o aluno reveja seu processo de aprendizagem nas dimensões individuais e coletivas, além de um momento final de avaliação”, comenta.
Para Cibele Lopresti, o desenvolvimento da coleção envolveu não só uma reflexão sobre os projetos, mas também sobre o processo educacional. Ao acompanhar a produção dos livros que reúnem projetos integradores, ela pôde observar de perto os desafios que essa prática pedagógica apresenta tanto aos autores quanto aos professores. “Nossas equipes de autores estão em pleno exercício do magistério, o que facilitou muito a concepção das obras. No processo, foi muito importante para nós pensarmos sobre procedimentos didáticos, sobre a relação entre conteúdos disciplinares e a resolução de problemas e sobre a maneira como podemos ouvir plenamente as demandas dos alunos. A produção dos livros foi, sem dúvida, um rico exercício para ressignificação do papel do livro didático, assim como do papel do professor-mediador”, comenta.
A produção da coleção Palavras para Integrar contou com a participação de diversos professores da rede pública e privada, que tinham experiência na realização de projetos em sala de aula e estavam dispostos a produzir um material de qualidade para que os estudantes pudessem adquirir as competências e habilidades previstas na BNCC. Segundo Ana Guerrero, o trabalho com projetos contribui para atingir esses objetivos porque abre a oportunidade de dialogar com o mundo e com o conhecimento por meio de problemas reais, para os quais buscam-se soluções. “Para chegar a elas, é percorrido um longo caminho, pensado a partir das competências gerais da BNCC, das competências e habilidades específicas de cada área do conhecimento. A abordagem interdisciplinar possibilita ao estudante realizar operações cognitivas mais complexas, amplas e aprofundadas sobre os problemas. Por meio deles, os alunos são convocados a questionar a realidade, pensá-la criticamente e criar mecanismos de intervenção para a mudança”, aponta.
Por fim, a professora fala sobre os cuidados necessários na produção de materiais didáticos, que compreende um processo longo e repleto de detalhes que precisam ser levados em consideração. “É um trabalho em equipe que envolve muitas mentes, mãos e, acima de tudo, muita vontade de todos em contribuir para que os alunos desejem aprender. A coleção Palavras para Integrar foi elaborada desse modo por professores que conhecem as diversas realidades das escolas brasileiras, mas que acreditam que a educação é um importante meio de mudança social”, comenta.
Ao abordar a obra didática da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Guerrero ressalta que o material traz temas atuais, alguns deles polêmicos e, por isso, atrativos para os jovens estudantes. “A seleção das metodologias ativas e dos materiais indicados em cada projeto foi muito criteriosa, e estivemos a todo o momento preocupado em auxiliar o trabalho do professor, bem como garantir que cada projeto fosse um momento de exercício do pensamento crítico e reflexivo do aluno. Desejamos que professores e alunos aproveitem muito dos projetos e façam delas belas oportunidades para aprender e transformar suas realidades”, completa.
Saiba mais sobre os livros da coleção Palavras para Integrar, de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e de Linguagens e suas Tecnologias, ambos aprovados no PNLD 2021. Aproveite e confira também nosso texto sobre projeto de vida, e conheça o livro Projeto de Vida – Histórias que o Inspiram, também aprovado no PNLD.